Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
Acabou, dois anos de amor, que terminaram em mentiras.
Isto não está famoso, pois não? Sempre aodrei este poema, uma vez em filosofia tinhamos de fazer um trabalho sobre algo estetico que gostavamos - poema, fotografia, música - e eu escolhi este poema. Acho que fui ao fundo da essência deste poema e consegui a melhor nota de todos os trabalhos que o professor tinha visto até aquela altura. Ganhei-lhe um gosto ainda maior.*
ResponderEliminarQuanto ao resto, acho que os meus 4 anos e tal também chegaram ao fim. Chegaram já há uns dias mas só ontem é que chorei, acho que só ontem tomei consciencia. Costuma dizer-se que a primavera têm destas coisas:|
Infelizmente estes "4 anos e tal" não tem sido pacificos, mas isto era tema para muita conversa. Não é a primeira vez que acabamos. Nós já passamos alguns tempos separados e acho que nos fez bem. O que tem vindo a acontecer é que tenho sido eu a trabalhar sozinha e eu afastei-me, afastei-me já há uns dias e não recebi nada. Recebo a insistência via telefone mas que eu faço questão de (tentar) ignorar. Não é isso que eu quero, o que eu quero é ser procurada. Só ontem é que isto me bateu, chorei e hoje chorei mais e vou chorar mais. Se calhar saturamos.
ResponderEliminarE tu o que se passou?*
Márcia , como assim ?
ResponderEliminarDepois manda sms :c
este poema é muito bom mesmo! apresentei-o uma vez, numa aula de português * força querida!
ResponderEliminar